domingo, 14 de setembro de 2008

Projeto resgata indicadores da memória e da história política do País

Leandra Rajczuk lerajmar@usp.br
02/09/2008 12:42

Agência USP de Notícias

A partir de uma proposta elaborada no ano passado em atenção à iniciativa da Secretaria de Estado da Cultura, está em fase de implantação o Memorial da Resitência. O novo projeto é de autoria de Maria Cristina Oliveira Bruno, museóloga do Museu de Arqueologia e Etnologia (MAE), e Maria Luiza Tucci Carneiro, historiadora do Departamento de História da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) e coordenadora do Projeto Integrado Arquivo Público do Estado (PROIN/USP). As pesquisadoras contaram, para a elaboração do projeto, com a colaboração de Gabriela Aidar, educadora da Pinacoteca do Estado de São Paulo. “Por meio de estratégias museológicas e pedagógicas interativas, o projeto buscará o resgate dos indicadores da memória e da história política do País”, afirma a professora Cristina Bruno. Na área expositiva do Memorial da Resistência funcionavam as celas do antigo Departamento Estadual de Ordem Política e Social do Estado de São Paulo (Deops), por onde passaram muitos dos presos políticos durante o Estado Novo e a ditadura militar, entre 1940 e 1983. “Portanto, o projeto está voltado para a musealização da resistência e da repressão ao recuperar memórias silenciadas, destruídas e até exiladas.” Segundo Cristina Bruno, a idéia é estabelecer um novo conceito gerador para consolidar um novo discurso expositivo, em diálogo com a Estação Pinacoteca, ampliando o espaço de visitação do memorial. Esta nova proposta se desdobrará em mostras temporárias e em um amplo projeto educativo e de ação cultural. “Além disso, a formação de um centro de referência manterá o acesso à pesquisa, promovendo o registro de testemunhos e intercâmbio com demais entidades.” A previsão é inaugurar o novo espaço no próximo mês de novembro, de acordo com o anúncio feito durante o seminário “29 anos da Lei da Anistia – Verdades e Mentiras: Democratização e Abertura dos Arquivos Políticos”, ocorrido dia 28 de agosto, no auditório da Estação Pinacoteca. O evento, organizado pelo Fórum dos ex-presos e perseguidos políticos do Estado de São Paulo, teve apoio do Arquivo Público do Estado, do Grupo Tortura Nunca Mais de São Paulo e da Comissão de Familiares de Presos Políticos Mortos e Desaparecidos. Entre seus principais objetivos, o projeto visa à importância da preservação dos vestígios da memória, por meio de ações de pesquisa, salvaguarda e disseminação desenvolvidas por meio de conexão em rede com fontes documentais e orais, de estudos sobre o Deops/SP, com ênfase nas pesquisas desenvolvidas pelo PROIN. Haverá ainda o desenvolvimento de um centro de referência bibliográfica e de bens patrimoniais relativos à questão da repressão e da resistência, além de exposições de longa duração sobre o histórico do edifício e um programa de mostras temporárias. Desarquivando a Anistia Oficialmente a inauguração do projeto do Memorial da Resistência, ocorrida no dia 1º de maio deste ano, marcou o início da parceria do Fórum dos ex-presos e perseguidos de São Paulo com a Pinacoteca do Estado, responsável por gerenciar o espaço onde funcionava o antigo Deops, agora transformado em sede do Memorial, além de abrigar a Estação Pinacoteca. A experiência da abertura dos arquivos do Deops no Estado de São Paulo foi o tema da palestra “Desarquivando a Anistia: Arquivo Deops”, proferida pela historiadora Maria Luiza Tucci Carneiro. Sob sua coordenação no PROIN, o trabalho junto aos referidos arquivos deu origem aos primeiros inventários temáticos em nível acadêmico, constituindo-se, portanto, como importante laboratório de estudos da memória política brasileira, sendo papel central na formação de historiadores. Durante a apresentação, a historiadora exibiu imagens de diversos documentos analisados por sua equipe, como relatórios manuscritos, cartões-postais, envelopes e cartazes. “Temos um balanço das ações e encontramos silêncios propositais, o chamado ‘fenômeno de ocultamento’”, explica Maria Luiza, lembrando que a história se escreve à margem dos documentos. “Dessa forma, conseguimos reconstituir a história da ditadura por intermédio dos vestígios deixados pela Polícia Política, a qual foi detalhista em suas anotações.” Nesta fase de implantação, uma nova equipe foi contratada para o desenvolvimento dos trabalhos e conta com a participação do historiador Erick Zen, da museóloga Kátia Felipini e da educadora Caroline Menezes. Com dinâmica própria, o novo projeto do Memorial da Resistência estará integrado aos movimentos e às instituições nacionais e internacionais dedicadas ao fortalecimento das práticas democráticas e preservadoras de espaços que testemunharam as lutas pela liberdade e resistência. Seu lançamento pretende contribuir para a construção da memória e da história política do País, com ênfase na problematização dos distintos caminhos da memória da repressão e da resistência, enfatizando os indicadores da herança patrimonial. Mais informações nos sites www.pinacoteca.org.br e www.usp.br/proin

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