5 DE DEZEMBRO DE 2008 - 16h17
Portal Vermelho
O tenente da reserva José Vargas Jiménez admitiu que torturou militantes do PCdoB para arrancar confissões que levaram os militares a aniquilar a Guerrilha do Araguaia na época da ditadura militar. O militar participou da audiência da Comissão Especial de Anistia, esta semana, na Câmara dos Deputados. Ele perguntou aos membros da comissão se tinha direito a pedido de indenização.
A indagação do militar irritou o deputado Tarcísio Zimmermman (PT-RS). Ele considerou como fato grave a pergunta. “O senhor estava a serviço, mas não a serviço da ilegalidade. O senhor torturou, não foi torturado. A lei da anistia contempla os que foram vítimas de arbitrariedade”, disse, acrescentando que “não se pode tripudiar uma segunda vez sobre as vítimas da arbitrariedade.”
O presidente da Comissão, deputado Daniel Almeida (PCdoB-BA), reforçou a posição de Zimmermann, destacando que a anistia é feita para as vítimas e não para aqueles que extrapolaram o que o Estado estabeleceu, e torturaram. “Para esses, a lei reserva o caminho da identificação e da punição”, alertou
Daniel Almeida requereu todos os documentos que o ex-militar disse que possui para que a Comissão possa obter informações mais concretas e promover a anistia naquilo que prevê a lei. O ex-militar anunciou a existência de documentos em seu poder, que provam a prática de torturas e mortes na época da ditadura, em matéria publicada na revista Isto É, no dia 22 de março deste ano, que resultou na convocação dele na audiência da Comissão da Anistia.
Na audiência, o ex-militar confirmou o que havia dito na entrevista. Ele torturou camponeses e guerrilheiros do PCdoB. “Confirmo que torturei. Já pedi a Deus o meu perdão. Estava numa guerra e tive de cumprir ordens”, disse o militar, que se transformou no primeiro comandante de grupos de combate a admitir oficialmente o que as Forças Armadas negam nos últimos 35 anos.
Jiménez contou detalhes do plano militar, chocando os parlamentares com relato do método que usou para torturar um camponês. Disse que, como o preso se recusava a contar o que sabia sobre a guerrilha, amarrou-o num pau viveiro de formiga, com o corpo lambuzado de açúcar e a boca cheia de sal. Quando as formigas começaram a picar, o camponês não agüentou e conotu tudo.
“Atirar primeiro”
Ele conta que para quem entrou na selva em outubro de 1973 com a ordem de acabar com a guerrilha. ''Atirar primeiro e perguntar depois'', afirmou. Comandante de um grupo de 10 homens especializados em combates na mata, o tenente ficou na região de 2 de outubro de 1973 a 27 de fevereiro de 1974, período em que foram mortos, segundo suas próprias anotações, 32 guerrilheiros. Ele mesmo aprisionou um camponês e um guerrilheiro (Antônio de Pádua Costa, o Piauí, que figura na lista dos desaparecidos). Mas viu vivos vários outros ativistas que depois também desapareceriam.
Ele se mostrou contrário a discussão sobre revisão da lei de anistia para punir torturadores e disse que se tivesse atuado no Araguaia, a ministra Dilma Rousseff, da Casa Civil, não estaria viva hoje.
No começo do depoimento, Jiménez admitiu que sabia de locais onde vários corpos de guerrilheiros foram abandonados e até se dispôs a voltar à região – acompanhado de mateiros que trabalharam para o Exército – para apontá-los. Diante da reação dos deputados, recuou e disse que não mais colaboraria com a comissão.
De Brasília
Márcia Xavier
Com agências
quarta-feira, 10 de dezembro de 2008
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