Reuters
SÃO PAULO (Reuters) - A tortura praticada por militares durante a ditadura na Argentina (1976-1983) raras vezes foi tão contundente como no drama "Garage Olimpo", dirigido por Marco Bechis, que estréia apenas em São Paulo.
SÃO PAULO (Reuters) - A tortura praticada por militares durante a ditadura na Argentina (1976-1983) raras vezes foi tão contundente como no drama "Garage Olimpo", dirigido por Marco Bechis, que estréia apenas em São Paulo.
Produzido em 1999, quando foi exibido na mostra Um Certo Olhar do Festival de Cannes, o filme só chega agora ao Brasil, aproveitando o lançamento de outro filme do mesmo diretor, o drama indígena "Terra Vermelha", rodado no Mato Grosso do Sul.
Bechis é filho de uma chilena e um italiano e viveu em São Paulo e Buenos Aires, onde conheceu os horrores da ditadura.
Contado num estilo semidocumental, com uma câmera um pouco distanciada dos personagens, "Garage Olimpo" mergulha nos porões da ditadura onde vidas eram descartadas depois de extraídas à força as informações dos presos.
Quando Maria (Antonella Costa, de "Diários de Motocicleta") é levada para a 'sala de cirurgia' (um eufemismo para o local onde aconteciam as torturas) ela tem uma venda em seus olhos. O militar que a conduz diz que ela 'jamais enxergará nada. Agora seu mundo é feito apenas de sons'. Esse é o principio do horror que está por vir.
Idealista, Maria trabalha em favelas, onde alfabetiza adultos. Apenas por causa disso, sua casa é invadida por um esquadrão liderado por Tigre (Enrique Piñeyro), que a leva sem dar qualquer explicação para a mãe da moça (Dominique Sanda), que passa a procurá-la desesperadamente, ao lado de parentes de outros presos políticos.
Ela é levada para a chamada 'Garage Olimpo', gíria interna para designar o local onde será "interrogada". Lá, ganha tratamento preferencial por Felix (Carlos Echevarría), que a conhecia de vista. Embora ele tente protegê-la, quase inutilmente, não consegue despertar nenhum sentimento na moça, a não ser o medo e a repugnância.
Com um roteiro co-escrito pelo diretor e pela italiana Lara Fremder, "Garage Olimpo" evita cair em momentos de violência gratuitos, utilizando saídas cinematográficas para não ser explícito. O horror é ainda maior, porque não vemos ao certo o que acontece com Maria - embora a imaginação fique livre para completar as lacunas.
"Garage Olimpo" evita um tratamento melodramático do tema, como aconteceu no premiado "A História Oficial" (1985), ou o embate psicológico entre torturador e vítima em "A Morte e a Donzela" (1994), apresentando os fatos de maneira mais naturalista.
Em sua meia hora final, quando retoma a cena inicial, o filme mergulha de vez no caos emocional dos personagens - torturados e torturadores. E termina com uma nota triste sobre o destino de milhares de presos políticos, deixando claro seu caráter militante, procurando contribuir para que a luta e a vida de muitas pessoas não tenha sido em vão.
(Por Alysson Oliveira, do Cineweb)
* As opiniões expressas são responsabilidade do Cineweb
Nenhum comentário:
Postar um comentário