sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Emiliano José conta a trajetória de Victor Meyer

A tarde on line
Emiliano José lança nesta sexta-feira, às 18 horas, no Centro Cultural da Câmara Municipal de Salvador, o terceiro volume da coleção Galeria F, pela Caros Amigos Editora. Depois de falar nos primeiros livros sobre diversos personagens que lutaram na Bahia contra a ditadura, como Juca Ferreira e Othon Jambeiro, desta vez o escritor e jornalista dedica todo o livro Victor Meyer, um revolucionário a uma só personalidade. O autor afirma que não se trata exatamente de uma biografia no sentido tradicional, mas de um roteiro biográfico.

Meyer nasceu em Salvador em 1949 e passou a infância em Alagoinhas, onde cursou o ensino médio antes de voltar para a capital. “Aqui, ele se destacou e rápido se tornou dirigente estudantil. Aí, vinculou-se à Polop (Política Operária), uma organização revolucionária marxista”, diz Emiliano.

Polop – A Polop era precursora de uma visão crítica do PCB (Partido Comunista Brasileiro). Foi graças à sua acuidade intelectual que Victor se aproximou da Polop e se tornou militante dela. “Ele era um militante dedicado ao estudo. A Polop era muito voltada para a análise e um estudo mais denso, mais apurado”.“Tinha um viés marxista rigoroso e uma carga teórica muito forte”, prossegue o autor. ”No entanto, isso não é uma crítica, mas uma constatação”. Na Polop, Meyer tinha companheiros da mais alta densidade intelectual, como Emir Sader, Moniz Bandeira e Marco Aurélio Garcia, atual assessor especial para assuntos internacionais da Presidência.

Para Emiliano, Meyer foi uma exceção, já que ele viveu clandestinamente por muitos anos e não “caiu” (“cair” significa ser preso ou morto, no jargão da esquerda revolucionária). O autor lembra que os militantes tinham uma “vida útil” de cerca de uma ano e meio a dois anos. “Isso era praticamente uma regra. Se examinar os números, vai ver que a média era essa aí”, lembra Emiliano.

Meyer pode não ser uma das figuras mais notórias ou conhecidas entre as que lutaram contra a ditadura militar no Brasil, mas, para o escritor, era um homem de grande densidade e de dedicação à luta do povo. “Acima de tudo, ele tinha muito estudo, era de pesquisar muito e não só de falar”, pontua.
Desde muito cedo, Meyer era muito dedicado à leitura. Asmático, talvez isso o tenha levado a certo recolhimento e à dedicação aos livros. Também se interessava muito por música clássica e por cinema. “Ele tinha essa propensão intelectual, no melhor sentido da palavra, mas não no sentido pedante”, registra Emiliano José. Uma de suas companhias nessas atividades intelectuais era Yara Falcón, integrante de uma família dedicada à militância política e que terminou recrutando Meyer para o movimento contra a ditadura. Emiliano relata que ela ficou impressionada quando o ouviu falar em público pela primeira vez, em uma cerimônia de boas-vindas aos calouros, organizada pelo Diretório Acadêmico da Escola de Geologia da Ufba, onde Meyer estudava.
Mas o biografado não entrou na luta armada ou participou de guerrilhas. A Polop, ao contrário de outras organizações, seguia um caminho diferente. Mas, mesmo sem usar armas, Meyer precisava se proteger e, para isso, usava um “nome frio”, como era muito comum na época. “Os que se dedicavam à luta revolucionária eram empurrados para a clandestinidade. Eu fui preso e era obrigado a ter uma segunda carteira de identidade. Usava o nome Pedro Luís Vian como nome de apresentação. A gente conseguia uma certidão em algum lugar e, dentro das organizações, havia alguém especializado em falsificar documentos”, recorda o autor, que passou quatro anos preso na Penitenciária Lemos Brito, em Salvador.Emiliano traça também um retrato pessoal e sensível de Victor Meyer, especialmente no capítulo Para Viver um Grande Amor, dedicado à relação entre ele e a mulher, Eliza Tieko. O casal começou a namorar em meados da década de 1970 e viveu junto até a morte de Victor, em 2001, vítima de câncer.
O autor – Emiliano José nasceu em São Paulo e vive na Bahia desde 1970. É autor de livros como Carlos Marighella, o inimigo número um da ditadura millitar e Lamarca, o capitão da guerrilha. Durante muitos anos, o ex-deputado Emiliano José deu aulas no curso de Jornalismo da Ufba.

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