sexta-feira, 7 de novembro de 2008

AGU quer tempo para liberar dados do Araguaia

Folha, 01.11.2008
RUBENS VALENTE
DA REPORTAGEM LOCAL

Criticada por setores do governo federal por ter emitido parecer que considera anistiados os crimes de tortura cometidos durante a ditadura (1964-1985), a AGU (Advocacia Geral da União) pediu à Justiça uma citação para que a União cumpra, em 120 dias, a sentença judicial que determinou a localização das sepulturas dos integrantes da guerrilha do Araguaia e a abertura dos arquivos do episódio.

A sentença, datada de 2003, transitou em julgado no início deste ano, não cabendo mais recurso da União. Até ontem, a sentença não havia sido cumprida. Na prática, o pedido da AGU, se acolhido, poderá gerar nova protelação no processo, que se arrasta desde 1982. A ação foi aberta por 22 familiares de mortos e desaparecidos no conflito (1972-1975). Em 2003, a AGU já havia recorrido parcialmente da sentença, o que levou a ação a passar mais cinco anos em tramitação.

O Ministério Público Federal reagiu à nova manifestação da AGU. Na última quinta-feira, o procurador Rômulo Moreira Conrado afirmou, em petição, que a União já teve tempo mais do que suficiente para organizar os documentos. Pediu que os arquivos sejam entregues num prazo de 15 dias, sob pena de multa diária de R$ 10 mil.

"Ao contrário do sustentado pela União, não se faz necessário determinar que a parte autora venha a promover sua citação, e muito menos que após tal ato poderá vir a apresentar embargos à execução, considerando a eficácia mandamental da sentença condenatória, sujeita a imediato cumprimento em razão de seu trânsito em julgado", escreveu o procurador.

Em e-mail, a assessoria da AGU informou à Folha: "A União apresentou a manifestação em juízo na sexta-feira passada [dia 24], na qual destacou, dentre outros aspectos, a necessidade, após a manifestação do Ministério Público Federal, de que o juízo cite a União para dar início à execução, daí começando a correr o prazo de 120 dias. A manifestação da União, que está nos autos, destaca essencialmente a necessidade de que o pedido dos autores na execução esteja adstrito ao fixado na sentença transitada em julgado". A Folha não teve acesso à petição da AGU.

A manifestação do procurador da República também é contrária a parte de uma petição protocolada pelo advogado que representa as famílias, o ex-deputado federal Luiz Eduardo Greenhalgh (PT).
Ele pediu a tomada de depoimentos de militares e até de um jornalista. O procurador da República disse que tal medida só seria cabível "numa segunda fase", na hipótese de os documentos do Exército se mostrarem insuficientes.

Greenhalgh informou, por e-mail, que não dará detalhes sobre sua petição, já que o processo, segundo ele, estaria sob segredo. Ele disse que busca a execução da sentença.

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