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11/10/2008 17:50
Por Flaviana Serafim
Jornalista no 30º Congresso da UNE
Neste Especial 68, faremos nossa homenagem ao jornalista Luiz Eduardo da Rocha Merlino, um dos fundadoresdo Jornal da Tarde, que trabalhou também no Amanhã e na Folha da Tarde. Nascido em Santos, começou sua carreira com apenas 17 anos, em 1966, e estudava História da Universidade de São Paulo.
11/10/2008 17:50
Por Flaviana Serafim
Jornalista no 30º Congresso da UNE
Neste Especial 68, faremos nossa homenagem ao jornalista Luiz Eduardo da Rocha Merlino, um dos fundadoresdo Jornal da Tarde, que trabalhou também no Amanhã e na Folha da Tarde. Nascido em Santos, começou sua carreira com apenas 17 anos, em 1966, e estudava História da Universidade de São Paulo.
Merlino era militante do Partido Operário Comunista (POC) e, em 1970, viajou para a França com sua esposa, Angela Mendes de Almeida, para aproximar seu partido da Quarta Internacional, estudar e fazer contados. Voltou em julho de 1971, foi preso logo depois, no dia 15, e levado para o DOI-Codi da rua Tutóia, em São PauloEm 20 de julho Merlino estava morto, DEPOIS (vítima) de 24 horas seguidas de tortura. O sangue do jovem jornalista – 23 anos ENTÃO – se juntou aos de tantos outros que morreram nas mãos do conhecido e temido coronel Tibiriçá – na verdade, o cel. Carlos Alberto Brilhante Ulstra, reconhecido oficialmente pela Justiça como torturador da família Telles (veja nota no blog).
Na época, o Departamento Estadual de Ordem Política e Militar (DEOPS) explicou à família que o jornalista havia se suicidado, jogando-se na frente de um carro na BR-116, em Jacupiranga. Mas na verdade, ele não resistiu as bárbaras torturas. Como o corpo não aparecia, um médico da família localizou Merlino, sem identificação, no Instituto Médico Legal de São Paulo.
Joel Rufino dos Santos, amigo de Merlino, relatou: “um torturador da Operação Bandeirante, Oberdan, cismou de falar comigo sobre Merlino. ‘Não morreu como vocês pensam. Foi para o Hospital passando mal. Telefonaram de lá para dizer que ou cortavam suas pernas ou morria. Fizemos uma votação. Ganhou deixar morrer. Eu era contra. Estou contando porque sei que vocês eram amigos. Não foi como pensam”.
“Luiz Eduardo Merlino é dessas pessoas que ficam para sempre gravadas na memória de quem as conheceu, por mais que passem os anos e as modas. Tive a chance de encontrá-lo em Paris, durante os poucos meses em que permaneceu no exílio (1970-71), como militante da nossa corrente (a velha Quarta), mas sobretudo como amigo, como '"camarada', no amplo e fraterno sentido desta palavra”, comentou Michel Löwy, intelectual brasileiro radicado na França.Os parentes de Merlino moveram processo contra o cel. Brilhante Ulstra para o reconhecimento da morte do jornalista como vítima de tortura. Mas a ação foi extinguida em setembro deste ano numa lamentável decisão da 1ª Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça de São Paulo.
A defesa alegou que “não cabia a ação declaratória” (que busca o reconhecimento do torturador, e não punição ou indenização) porque, como explica o advogado da família, Fabio Konder Comparato “o tribunal considerou que, no caso, não se tratava de uma relação jurídica, tratava-se apenas de reconhecimento de fato”.
A defesa alegou que “não cabia a ação declaratória” (que busca o reconhecimento do torturador, e não punição ou indenização) porque, como explica o advogado da família, Fabio Konder Comparato “o tribunal considerou que, no caso, não se tratava de uma relação jurídica, tratava-se apenas de reconhecimento de fato”.
Em entrevista à Agência Brasil, a ex-companheira de Merlino disse que “os desembargadores suscitaram problemas técnicos, uma interpretação técnica, dizendo que eles não estavam julgando o mérito, ou seja, não estavam apoiando os crimes do Ustra, mas recusaram a continuidade da ação”. Mas, "eles são favoráveis, de uma maneira ou de outra, para que continue a impunidade dos torturadores”, afirmou Angela.
O coronel foi inocentado pelos desembargadores Luiz Antonio de Godoy e Hamilton Elliot Akel. A família recorreu ao Supremo Tribunal Federal e aguarda que a verdade sobre o assassinato seja, finalmente, reconhecida.
Leiam as reportagens escritas por Luiz Eduardo Merlino sobre o 30º Congresso da UNE, publicadas em 14 de outubro de 1968, na Folha da Tarde:
Um triste congresso “Durante três dias o repórter Antonio Mello viveu a mesma vida dos estudantes que participaram do Congresso da UNE: andou debaixo de chuva, comeu muito pouco, dormiu menos ainda. Acabou também preso, como eles, numa cela úmida do presídio Tiradentes.”
Quem é ela? “Que é a União Nacional dos Estudantes?”
Um defunto que não morreu “A UNE é um defunto que não morre. Em 1964 o governo disse que ela não mais existia: estava na ilegalidade, tinha virado ex-UNE. Mas um ano depois ela estava de volta com o presidente e diretores eleitos. Agora dizem que ela morreu de novo mas os estudantes falam: A UNE somos nós.”
Fontes: site Observatório das Violências Policiais-SP; Livros “Dos Filhos deste solo - Mortos e desaparecidos políticos durante a ditadura militar: a responsabilidade do Estado”, de Nilmário Miranda e Carlos Tibúrcio (Bointempo Editorial/Fundação Perseu Abramo); e “Cães de Guarda – Jornalistas e censores, do AI-5 à Constituição de 1988”, de Beatriz Kushnir (Editora Boitempo Editorial)
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